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Jornal O Globo de 23-08-1981
MÉTODO MONTESSORIANO, INTEGRAÇÃO SOCIAL DE DEFICIENTES
Nas escolas montessorianas, o currículo é individualizado e não existe reprovação nem notas por aproveitamento.

    Em palestra realizada no Instituto Nacional de Educação dos Surdos, o professor Jakob Muth, da Universidade de Bochum, Alemanha Ocidental, falou sobre a teoria e prática do método montessoriano na educação das pessoas deficientes e apresentou um filme, produzido na Holanda, sobre o tema. Informou que na Itália, onde esse método pedagógico foi amplamente empregado, não mais existem escolas especializadas para crianças deficientes: lá, todas as crianças frequentam escolas comuns e recebem educação montessoriana.
   
    Membro da comissão alemã para o Ano Internacional da Pessoa Deficiente, o professor Muth falou do interesse no renascimento do método montessoriano, que já vem sendo empregado na educação de crianças deficientes nos países desenvolvidos da Europa e que, sem distinção, visa educar e integrar tanto estas quanto as crianças normais.

    Com o emprego desse método de educação é possível às crianças deficientes desenvolverem seu próprio ritmo de aprendizado e passarem por um processo de socialização. Mas, esse ritmo de aprendizado do deficiente não deve, é claro, atrasar o das crianças normais, ressaltou o professor. Muito embora as escolas montessorianas possam adotar o método para os deficientes de um modo geral, Jakib Muth alertou para a impossibilidade de estendê-lo, indistintamente aos deficientes auditivos. Em seguida, o professor descreveu como Maria Montessori descobriu e elaborou sua metodologia:
    - Maria Montessori, nascida em 1870, foi uma médica italiana que se destacou mais como pedagoga. Foi a primeira mulher na Itália que concluiu um curso de medicina e logo se integrou num movimento de emancipação feminina. No início deste século foi trabalhar numa clínica da Universidade de Roma, onde começou suas pesquisas com crianças deficientes.

    Seu principal objetivo era estimular a responsabilidade das crianças. Elaborou materiais de treinamento que davam às crianças uma compensação de suas deficiência. E se viu incentivada a criar também um método de educação para crianças normais. Recebeu uma nova incumbência: cuidar das crianças da periferia de Roma, filhos de operários.

    Naquela época, já surgira um conceito similar ao de jardim da infância e Maria Montessori criou a Casa da Criança, onde tudo era feito para que o meio-ambiente se adaptasse às crianças. Ali, pela primeira vez, elas se sentavam sozinhas em cadeiras de seu tamanho, com mesas baixas. Em suas experiências, Maria Montessori observou uma criança de três anos a lidar, sozinha com um de seus instrumentos, que consistia em seis cilindros de tamanhos diferentes a serem introduzidos em orifícios de uma placa. Entretida em sua tarefa, a criança não se dava conta das atividades das outras, que cantavam à sua volta, e repetiu a operação 44 vezes. Quando parou, se portou como se tivesse liberado alguma carga.

    Com essa experiência, Maria Montessori concluiu que é possível a concentração numa criança de três anos, desde que ela esteja ocupada com materiais adequados. A base de suas observações era de que a criança, quase que num apelo, pedia "ajude-me para que eu própria possa fazer". Assim ela estabeleceu a ideia de que quando os pais e educadores tem uma atitude discreta, a criança é capaz de aprender sozinha.

    Com uma multiplicidade de materiais e instrumental adequado para a atividade escolar, o método montessoriano pode ser empregado também nas escolas de Primeiro e Segundo Graus, não se destinando apenas ao aprendizado pré-escolar. Nas escolas montessorianas não existem currículos compulsórios para todas as crianças, pois eles são organizados individualmente; não há alunos desaprovados nem repetição de qualquer série e também não há atribuição de notas.

Explorar os recursos de cada um. Nada de teorias.
    Como no método Piaget, o ensino montessoriano entende o desenvolvimento mental como extensão do biológico. Por isso, mais que fornecer teorias para o aprendizado, o método Montessori procura explorara os recursos de cada criança, de seu próprio universo. O aprendizado deve ser individual, pois cada criança tem seu ritmo. E, se os sentidos são o instrumento de conhecimento infantil, devem ser aproveitados até que ela alcance formas mais elaboradas de pensamento.

    A didática montessoriana se apoia em um tripé: ambiente adequado, disponibilidade de instrumental específico e professor especializado. Nada de salas de aula convencionais: mesas e cadeiras em dimensões adequadas às crianças e eliminação da divisão de alunos por classes. A escola é uma casa na qual o aluno pode circular livremente e, ao observar um colega em estágio mais adiantado, poderá perceber que o aprendizado é uma conquista gradativa.

    Há uma grande variedade de material didático dos objetos comuns ao universo infantil até jogos de peças a serem montados de infinitas maneiras. E assim, pela descoberta e não pela transmissão direta de conhecimento, a criança adquire noções de matemática, desenho, relações concretas e abstratas. Ao lidar com o alfabeto não letras, mas fonemas, e assim terá um repertório infinito para explorar o mundo das palavras.
    E o professor, sem utilizar a didática formal, não é, como se poderia pensar, uma figura ausente. Pelo contrário, registra todos os progressos dos alunos, além de estimulá-los para o trabalho. Trabalhar mesmo, porque ninguém aprende brincando. As punições e mesmo os prêmios não existem: o trabalho bem conduzido, rende seus próprios frutos.